OBSERVADOR DA QUALIDADE

Você nunca mais vai aceitar nem fazer as coisas do mesmo jeito.

Home

O que é este Site

Monografia

Profis

Curso

Casos de Qualidade

Fale Conosco

 

MEU PAI TINHA RAZÃO

Quando eu era criança, meu pai costumava, aos domingos, me levar ao estádio Alinor Vieira Corte, para assistir a jogos de futebol do Santa Cruz, principalmente nos seus embates com o arqui-rival Botafogo.

Também íamos assistir aos espetáculos de circo, sempre que pintava um por aqui. Certa vez havia um artista que controlava a bola na cabeça, por um tempão, sem deixar cair. Falei pro meu pai que aquele cara bem que poderia jogar no Santa Cruz. Meu pai replicou dizendo que aquilo que o sujeito fazia não teria o menor sucesso numa partida de futebol de verdade, pois não renderia nada para a equipe.

O tempo passou. O estádio Alinor Vieira Corte já não existe mais. E já faz bastante tempo que me desencantei com o futebol. Recentemente tive mais razões para esta desilusão. Foi no dia seguinte ao jogo de despedida da seleção brasileira do atleta Ronaldo Nazário, suposto fenômeno como jogador, comprovado fenômeno em outra área, “case” de sucesso de marketing.

A TV Globo mais uma vez demonstrou como as coisas vêm sendo tratadas no esporte. Ao falar da partida, um repórter exaltou os “dribles absurdos” de Neymar e as jogadas excepcionais dos jogadores brasileiros. Enquanto isso as imagens das tais jogadas eram mostradas. Numa, Neymar sapateava diante de um zagueiro adversário imóvel. O jornalista falava em “pedaladas”. Noutra, uma tentativa de “bicicleta” do atacante Fred quase no meio do campo e, finalmente, um “chapéu” absolutamente inofensivo, aplicado por Robinho num oponente. Era, como se dizia antigamente, o que agradava aos americanos no soccer (isto numa época em que os americanos só entendiam do football). Mas eram incapazes, assim como boa parte dos que hoje se dizem torcedores (virou moda, são consumidores de futebol), de apreciar a beleza e a importância de uma bola “matada” no peito por um defensor na sua pequena área, para em seguida sair jogando com a bola no chão, iniciando um ataque com um preciso passe de trinta metros de distância. Um lance como este não apareceria nos melhores momentos, mesmo que resultassem em gol. Só destacariam o momento do gol e da comemoração, principalmente se ela for “criativa”, que é um eufemismo para “quanto mais extravagante, melhor”. Aliás, parece que tem jogador que ensaia mais a comemoração do que a jogada propriamente dita. O que vale é o espetáculo, ou melhor, “o show especatuloso”: malabarismos, embaixadinhas inócuas, pirotecnia, comemorações esdrúxulas, declarações ridículas, vida pessoal escancarada, “evasão” de privacidade, escândalos. O circo era melhor.  (veja  "O foquinha"   e  Amiguinhos)  - (Julho/2011)