OBSERVADOR DA QUALIDADE

Você nunca mais vai aceitar nem fazer as coisas do mesmo jeito.

Home

O que é este Site

Monografia

Profis (novo)

Curso

Casos de Qualidade

Fale Conosco

 

TRABALHO REFERENTE À CONCLUSÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE EDUCADORES – PROFIS SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL – SENAC  SANTA CATARINA - 1ª parte

Fundamentos Teórico / Filosóficos

>>>2ª parte

Este trabalho é parte do Programa de Desenvolvimento de Educadores – PROFIS, realizado pelo SENAC Santa Catarina, em Canoinhas, no ano de 2004.

Abrange a primeira etapa do evento, que foi constituída por quatro encontros mensais onde se abordaram os seguintes temas, antecipadamente analisados pelos participantes: Filosofia da Educação, Trabalho e Educação, Educação de Adultos e Concepções Pedagógicas.

A recomendação para esta tarefa era “refletir sobre a realidade vivenciada na sua prática pedagógica, relacionando-a com os aspectos pontuados em cada módulo estudado”.

Em primeiro lugar devo registrar minha dificuldade em lidar com estes assuntos, dada a sua subjetividade. Esta barreira que tento superar é conseqüência da minha formação profissional e acadêmica (27 anos no setor bancário, passando pelo processamento de dados e, mais recentemente, desde o ano 2000, dedicado ao estudo da Qualidade e Produtividade nas organizações, assunto sobre o qual sou orientador de curso no Senac). Em ambas as formações (a profissional e a acadêmica) a prática está muito distante do que se cuida neste curso. Não deveria estar, já que qualquer atividade humana se faz a partir de uma fundamentação filosófica (SENAC, 2001a), mas o fato é que está.

Esta característica, a subjetividade, certamente explica os questionamentos que sofrem todas as correntes filosóficas surgidas desde a Grécia Antiga, no Século VI a.C. Alguns desses questionamentos, evidentemente, decorrem da ignorância dos questionadores. Outras controvérsias advêm das circunstâncias em que esses pensamentos se formaram. Como exemplo de que, às vezes não se pode olhar o passado com “os olhos de hoje” podemos tomar a afirmação de Aristóteles (384-322 a.C) a respeito da mulher, definindo-a como “um homem inacabado” (DURANT, 1996).

Pegue-se também os pensamentos de Sócrates (470-399 a.C) e do próprio Aristóteles, quando aquele dizia que o ser humano já trazia consigo ao nascer todo um potencial conhecimento que era exteriorizado à medida em que a pessoa fosse submetida a estímulos intelectuais. Já Aristóteles asseverava exatamente o contrário, ou seja, o ser humano nascia sem ter dentro de si nenhum conhecimento e aprendia por transmissão dos outros, por um processo de apropriação daquilo que antes era de outrem (SENAC, 2001a)

Estas dúvidas persistem até hoje, quando se trata da Filosofia da Educação, com as concepções de aprendizagem definidas como o inatismo, o ambientalismo, o construtivismo e o sociointeracionismo (SENAC, 2001a).

Mas, afinal, o que é Filosofia? O Dicionário Houaiss, consultado no site Universo On Line – UOL registra:

1.         Amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância [segundo autores clássicos, sentido original do termo, atribuído ao filósofo grego Pitágoras (século VI a.C)].

2.         No platonismo, investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a mera opinião irrefletida do senso comum que se mantém cativa da realidade empírica e das aparências sensíveis.

3.         No âmbito das relações com o conhecimento científico, conjunto de princípios teóricos que fundamentam, avaliam e sintetizam a miríade de ciências particulares, tendo contribuído de forma direta e indispensável para o surgimento e/ou desenvolvimento de muitos destes ramos do saber.

4.         Na dimensão metafísica, conjunto de especulações teóricas que compartilham com a religião a busca das verdades primeiras e incondicionais, tais como as relativas à natureza de Deus, da alma e do universo, divergindo, entretanto, da fé por utilizar procedimentos argumentativos, lógicos e dedutivos.

5.         No âmbito da relação entre teoria e prática, pensamento inicialmente contemplativo, em que o ser humano busca compreender a si mesmo e a realidade circundante, e que irá determinar, em seguida, o seu caráter prescritivo ou prático, voltado para a ação concreta e suas conseqüências éticas, políticas e psicológicas.

6.          Conjunto de obras filosóficas de um determinado autor; teoria, sistema, doutrina.

7.         Pensamento ou obra de conteúdo filosófico.

8.         Conjunto de concepções filosóficas comuns a determinado grupo social; pensamento coletivo.

9.         Conjunto de princípios para orientação na vida prática; razão, sabedoria.

10.     Elevação ou serenidade de espírito, possibilitando a manutenção de ânimo e do humor frente às adversidades; sabedoria.

 

Como se vê, nada que se coadune muito com o modo de vida atual, em que o que vale é o “ter”, em detrimento do “ser”, o que pode desvendar as razões da ojeriza que a maioria dos jovens têm pela disciplina FILOSOFIA nos cursos superiores ou em qualquer outro. Talvez por esta razão, o Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Clemente Ivo Juliato, tenha dito o seguinte, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba: “Ortega y Gasset alerta-nos para as legiões de ‘novos bárbaros’ egressos das nossas universidades. O notável pensador espanhol qualificava dessa maneira os profissionais cheios de conhecimentos técnicos, mas totalmente carentes de qualificação humana”.

Examinando-se as diversas tendências ou concepções na educação, ao longo da História, percebe-se que sempre esteve em jogo a liberdade ou a opressão. Segundo SENAC (2001a), na antiga Grécia, as duas cidades principais tinham finalidades distintas no tocante à educação.  Enquanto em Atenas desejava-se formar homens livres (excluídas as mulheres e os escravos), em Esparta a intenção era forjar guerreiros com o objetivo de manter seus domínios ou realizar novas conquistas de territórios. No Império Romano, a educação destinava-se aos patrícios (membros da nobreza) e seus filhos. Permitia-se também a militares e a burocratas para que mantivesses o funcionamento do Estado. Na Idade Média, também servia para famílias nobres, para formar quadros administrativos para o Estado e teólogos cuja tarefa seria fortalecer a estruturas da Igreja Católica, que à época exercia domínio absoluto sobre a Europa.  A primeira vez em que se universalizou a oferta de educação no Ocidente foi n Século XVI, na Europa Protestante. A motivação era religiosa, já que queria propiciar às pessoas a leitura da Bíblia, entendida como condição essencial para a salvação, da qual todos eram merecedores. O sistema capitalista visava essencialmente obter lucros, o que só seria possível com mão de obra educada com o mesmo tipo de ensino no país inteiro. No entanto, no século XX, foram os países que adotaram o sistema comunista que lograram alcançar maior índice de socialização do conhecimento.

  Nos dias de hoje, são diversas as finalidades da educação, conforme SENAC (2001a).  Eis algumas: para inserção do indivíduo na sociedade, para a produção, para a empregabilidade, para as exigências da tecnologia, para a democracia e cidadania, etc. Poderíamos agrupar os itens inserção do indivíduo na sociedade, produção, e exigências da tecnologia num só, mencionado acima: empregabilidade. Segundo VIANNA e JUNQUEIRA (1996), empregabilidade significa:

 “um conjunto de conhecimentos, habilidades e comportamentos que tornam um executivo ou profissional importante para sua organização e para toda e qualquer empresa. (...) Ter empregabilidade é conseguir rapidamente emprego em qualquer organização, independentemente do momento que vive o mercado, seja em maior ou menor demanda. Características da empregabilidade, por exemplo, são, entre outras, falar mais de uma língua (inglês e espanhol preferencialmente), conhecer e respeitar diferenças culturais e saber tomar decisões dentro de um esquema de globalidade”.

Analisando-se os anúncios de ofertas de emprego e também a literatura atual, bem como pronunciamentos de especialistas, nota-se outros ingredientes necessários: capacidade para trabalhar em equipe, bom humor, percepção de detalhes, saber expressar-se corretamente na própria língua, verbalmente e por escrito.  Em junho de 2004 a revista Veja publicou o resultado de uma pesquisa que apontou os perfis de profissionais mais valorizados pelo mercado de trabalho: assertivo, empreendedor, analítico, sociável e disciplinado. Noutra matéria, esta de dezembro de 2003, a mesma revista, ao tratar do “desafio de arranjar emprego”, informa que “os empregadores procuram pessoas versáteis, que saibam se comunicar, que consigam trabalhar em equipe e que tenham habilidade para liderar”.

As escolas ensinam tudo isso? Não, pelo menos até a graduação. Parece que, nesse aspecto, todas são adeptas do Inatismo, tendência naturalista acerca do desenvolvimento humano que acredita que o homem nasce pré-determinado, seja pela hereditariedade ou até por vontade divina (SENAC, 2001e). Ou seja, de acordo com essa corrente, os atributos que constam no cardápio da empregabilidade seriam aptidões e dons inatos. No entanto, segundo a própria reportagem de junho de 2003 da revista Veja, hoje os especialistas admitem que os talentos são de vários tipos e que aqueles mais valorizados são os que podem ser desenvolvidos pelas pessoas. A revista também mostra a definição de talento que consta no dicionário Aurélio: “aptidão natural ou habilidade adquirida” e completa afirmando que “no mundo do trabalho a segunda definição está se tornando a mais animadora”.

Se a educação escolar no Ocidente tem registro há muitos séculos, sua relação com o trabalho tem a mesma idade.

Já se disse aqui que na Grécia Antiga a finalidade da Educação era formação de cidadãos para a política e restrita aos chamados homens livres, com a exclusão dos escravos e das mulheres. Na Idade Média a educação ainda era limitada a uma pequena parte da população, mas que abrangia também uma camada não oriunda das classes dirigentes, mas com o propósito de prepará-la para prestar serviços a esta última (SENAC, 2001b). Foi o advento da Revolução Industrial que forçou mudanças em razão de que introduziu procedimentos que exigiam do trabalhador também esforço intelectual. Já a Revolução Francesa trouxe a consciência de que todos, indistintamente, tinham direito de acesso à educação.

No Brasil, a Ditadura Militar transformou o Ensino Médio em profissionalizante para aumentar a quantidade de profissionais com mais competência técnica e diminuir a demanda de vagas nas Universidades. Somente com o fim do regime militar foi possível discutir o pensamento de Gramsci, Vygotsky e outros, que entendiam que o conhecimento é muito mais que meramente utilitário, mas um patrimônio ao qual todos tem direito.

Foi Antônio Gramsci (1891-1937) quem propôs que, para as sociedades contemporâneas, o Princípio Educativo fosse o trabalho. Princípio Educativo é um ponto de partida para que se pense todo o processo educacional. Durante a Idade Média, esse princípio foi a religião. No Brasil, durante o império, foi o conhecimento erudito (SENAC, 2001b).

Embora a Constituição Federal brasileira disponha no artigo 205, que a educação é dever do Estado, ainda existe uma parcela considerável da população brasileira excluída do acesso à educação. Aqui cabe fazer algumas observações, em forma de perguntas, para reflexão. Afinal qual a razão pela qual, apesar de todos os discursos em prol de uma educação pública, gratuita e de qualidade, mudam os governos e as coisas continuam como estão no Brasil? O que aconteceria ao sistema privado de educação se, finalmente, o Estado conseguisse cumprir o que prescreve a Carta Magna? Reflexões semelhantes podem ser aplicadas a outros setores do nosso país, como a saúde e a segurança, onde, sai governo entra governo, o poder público vem há muitos anos se mostrando incapaz e de cuja fragilidade estatal sobrevivem – e muito bem - setores poderosos e influentes da nossa sociedade.

Não obstante, “hoje a educação deixou de ser privilégio de uma minoria seleta e de ver-se submetida a uma idade fixa. (...) Não cabe concebê-la como uma preparação para a vida e sim como uma dimensão desta, caracterizada pela aquisição contínua de conhecimentos e uma constante revisão de conceitos” (RENÉ MAHEU, 1970 apud SENAC, 2001c). Daí a crescente importância da educação de adultos.

Finamente, com relação às Concepções Pedagógicas e ao deter-me sobre o contido na proposta deste trabalho [“refletir sobre a realidade vivenciada na sua prática pedagógica (...)”], sou obrigado a concluir que utilizo na maior parte das vezes os métodos preconizados pelo modelo da pedagogia diretiva (SENAC, 2001d). Posso afirmar que isso decorre de dois fatores principais: (1) os próprios alunos, pela sua passividade e acomodação, assim o preferem. Mostram-se extremamente desconfortáveis e até contrariados quando instados a pensar e até exigem ser abastecidos de conteúdos e informações o tempo todo. Apreciam atividades lúdicas, como dinâmicas de grupo, desde que o aprendizado retirado se torne óbvio ao final.  (2) Percebe-se que a maioria dos alunos que acorre ao Senac o faz mais em busca do certificado do que de algum aprendizado que signifique mudanças no seu modo de proceder, tanto no campo pessoal como profissional. É bem verdade que o certificado, principalmente aquele emitido pelo Senac, tem muito valor, constituindo-se num poderoso instrumento de abertura de portas. No entanto, na deixo de alertar sempre que o que vai conservá-los num mercado de trabalho em constante mutação são os conhecimentos adquiridos e as habilidades para colocá-los em prática. E também que essa aquisição depende muito mais do próprio aluno do que do orientador, mediador, facilitador, multiplicador, bedel, mestre ou seja lá como se denomine na ocasião o outrora chamado professor..

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DICIONÁRIO HOUAISS. Disponível na internet. http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=filosofia.  09 nov 2004

2. DURANT, Will. A História da Filosofia. (Os Pensadores). Rio de Janeiro: Nova Cultural, 1996

3. GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 fev 2002.

4. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Programa de Desenvolvimento de Educadores – PROFIS – Fascículo Filosofia da Educação, Florianópolis, 2001a.

5. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Programa de Desenvolvimento de Educadores – PROFIS – Fascículo Trabalho e Educação, Florianópolis, 2001b.

6. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Programa de Desenvolvimento de Educadores – PROFIS – Fascículo Educação de Adultos, Florianópolis, 2001c.

7. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Programa de Desenvolvimento de Educadores – PROFIS – Fascículo Concepções Pedagógicas, Florianópolis, 2001d.

8. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Programa de Desenvolvimento de Educadores – PROFIS – Fascículo O Processo Ensino Aprendizagem, Florianópolis, 2001e.

9. VEJA, São Paulo, N. 1833, 17 dez 2003.

10. VEJA, São Paulo, N. 1860, 30 jun 2004.

11. VIANNA, Marco Aurélio F. e JUNQUEIRA, L.A. Costacurta. Gerente Total. Como Administrar com Eficácia no Século XXI. São Paulo: Gente, 1996.

>>>2ª parte