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Monografia 2.
O
QUE É QUALIDADE EM SERVIÇOS
Se perguntado, nenhum Cliente conceituaria,
com clareza, o que é Qualidade em Serviços. Mesmo as próprias Organizações
de Serviços têm dificuldades em dimensionar exatamente o que seria. LOBOS (1993), registra a seguinte definição:
“Antecipar, Atender e Exceder continuamente os Requisitos e as Expectativas
dos Clientes”. O que o Cliente detém em relação ao Serviço
são expectativas, que não podem ser sociologicamente previsíveis. Essas
expectativas são influenciadas por variáveis as mais diversas: mídia, amigos,
experiências anteriores, entre outras. Por exemplo, se perguntássemos aos nossos avós
o que seria um bom hotel, eles responderiam: aquele que têm quartos com lençóis
e banheiros limpos no corredor. Já nossos pais diriam: tem que ter lençóis
limpos e banheiro no apartamento. Quem sabe, uma televisão em preto e branco. Nós
já exigiríamos um apartamento com lençóis limpos, banheiro limpo, com
aquecimento central da água, televisão colorida e geladeira abastecida. Se
convidássemos nossos filhos para passar um fim de semana num hotel, eles
perguntariam: tem televisão a cabo? E a programação noturna? LOBOS (1993) relaciona tais expectativas ao
que chama três fatores de Qualidade em Serviços: Desempenho, Atendimento e
Custo. Uma agência dos Correios tem entre suas
principais finalidades enviar encomendas a algum lugar. Este é o fator
Desempenho: tem a ver com a razão de ser do Serviço em si. Já a forma como o
Cliente foi tratado pelos funcionários dos Correios, o ambiente que encontrou,
enfim como se sentiu ao ter o Serviço prestado, é um aspecto ligado ao fator
Atendimento. Outro ponto a ser considerado é o fator
Custo. O Cliente pode ter recebido um atendimento de excelência, sua encomenda
remetida a contento, mas se o preço que pagou foi incompatível, a qualidade
será incompleta. E como não existe “Meia-Qualidade”, não haverá
Qualidade. Segundo REIS (1998), a
ausência de qualidade KOTLER e ARMSTRONG (1993) dizem que Qualidade
em Serviços significa muito mais do que meramente ter uma seção de reclamações,
oferecer muitos sorrisos e atenção aos Clientes. VEJA (2000b) publicou uma reportagem sobre o
Hotel Costa do Sauípe, na Bahia, que vem bem a propósito do que preconizam
KOTLER e ARMSTRONG (1993). Reproduzimos
a seguir, na íntegra, trecho da matéria, que trazia o subtítulo “Muita
Gentileza, Pouca Eficiência”: Paisagem bonita, instalações luxuosas e a simpatia contagiante dos baianos são uma maravilha, mas, se a bebida não chegar gelada e a comida quente, não adianta. Serviço eficiente é imprescindível. Quando Costa do Sauípe estiver operando a todo o vapor, 2.500 funcionários - metade da região, metade importada principalmente de Salvador – estarão trabalhando no local. Lidarão diariamente com turistas brasileiros e estrangeiros, gente que paga caro pela estada e espera atendimento exemplar. Aquela história de “meu rei” e “sorria, você está na Bahia” dá certo na pousadinha simpática, não em hotéis de alto padrão, com preços idem. Por enquanto, o staff da Costa do Sauípe ainda tem muito a treinar. Todos os funcionários são gentilíssimos. Dão “bom-dia”, “boa-tarde” e “boa-noite” a todo mundo, o que torna a atmosfera agradável e descontraída. Sobra simpatia, mas falta eficiência. Nos restaurantes, onde a comida é boa, acontece de tudo. O prato predileto pode vir errado e a conta, demorar um tempão para chegar. “Pedi um gim-tônica no Super Clubs e o barman não sabia o que era. Parece que fizeram um recrutamento, não uma seleção da mão-de-obra”, diz a turista mineira Marília Braga, hospedada em Sauípe na semana passada. Para evitar erros graves, o resort se encontra em ritmo intenso de treinamento de pessoal. A média de escolaridade é a 7ª série completa e, nos cargos de chefia, exige-se o conhecimento de uma segunda língua. Há duas semanas, os 500 funcionários dos dois hotéis Sofitel estavam passando por essa fase. No primeiro dia de treinamento foram recebidos com tapete vermelho e taças de champanhe. Também tomaram o mesmo café da manhã que será oferecido aos hóspedes. A intenção era fazer com que sentissem como é ser bem recebido. Os trabalhos continuaram com exercícios que estimulam o raciocínio, a criatividade e a tomada de decisões. “Em geral, as pessoas estão acostumadas a receber e a obedecer ordens. Queremos que eles aprendam a refletir e decidir” diz André Victoria da Silva, gerente operacional do Sofitel. No final do curso, todos os funcionários serão divididos em três grupos. Enquanto duas equipes estiverem trabalhando, uma se hospedará no hotel, com direito a um acompanhante, para testar o serviço dos colegas e fazer críticas depois. Se nada disso der certo, a saída é uma só: sorria, meu rei. As Organizações que se distinguem pela
Qualidade dos seus serviços estabelecem elevados padrões e desenvolvem esforços
às vezes considerados absurdos para atingi-los. Tomam
o máximo de cuidados para empregar as pessoas certas e treiná-las. Nessas empresas, um serviço excepcional deixa
de ser apenas um conjunto de políticas ou procedimentos para se tornar uma
atitude que abrange toda a Organização, incorporando-se à cultura geral da
instituição (KOTLER e ARMSTRONG, 1993). Um aspecto extremamente importante - pode-se
dizer, decisivo quanto à obtenção ou não de sucesso - na questão da
Qualidade em Serviços é a participação dos Colaboradores. LOBOS (1993), que considera Serviços como
sendo atos sociais, menciona a palavra
inglesa empowerment, que se traduzida
literalmente para o português, significa “empoderamento”. Trata-se, em última
análise, de conceder poder aos Colaboradores, dando-lhes, inclusive, o direito
de errar. LOBOS (1993) define empowerment como
“o processo pelo qual os empregados assumem relativa autonomia para tomar
decisões na frente do Cliente, no intuito de satisfazê-lo naquilo que for
humanamente possível”. Uma das maiores dificuldades a serem superadas
na aplicação prática desse conceito está menos na disposição dos
superiores em repartir o poder e mais na aceitação dos subordinados de atribuições
que signifiquem tomar decisões e iniciativas. O fracasso de diversos Programas de Qualidade
está associado à forma com que os Colaboradores são tratados pelas Organizações.
O
psicólogo norte-americano Abraham Maslow, que acreditava que os seres humanos
aspiravam tornarem-se auto-realizados, formulou um modelo da motivação das
pessoas, segundo a qual existe uma “hierarquia das necessidades humanas”,
dispostas em ordem de importância, numa imagem semelhante a uma pirâmide
(Figura 1). Na base da pirâmide estão as necessidades básicas, também
chamadas de fisiológicas. No topo da pirâmide localizam-se as necessidades
mais sofisticadas e intelectualizadas. As necessidades básicas prevalecem sobre
as necessidades situadas no nível mais alto, sendo que estas são exatamente as
que levam à efetivação do potencial dos seres humanos, à vida feliz e aos
momentos de plenitude (MASLOW, 2000).
Figura 1
Enquanto
as pessoas não tiverem satisfeitas as suas necessidades básicas, situadas na
base da pirâmide, não conseguirão alcançar as aspirações que estão na
parte superior. CAMPOS
(1999) ensina que o conceito do crescimento do ser humano se baseia na intenção
de que as pessoas façam sempre serviços de valor agregado cada vez mais alto.
Isto significa escrever, falar, ordenar, mostrar, instruir, em vez de mover,
copiar, seguir, obedecer, etc. Ou seja, o indivíduo utilizar cada vez mais a
mente e não unicamente a força braçal. Observa que, nas empresas japonesas,
existe um esforço para se reduzir a “necessidade de mão-de-obra”, e não
de “reduzir pessoas”. Estas são utilizadas no sempre existente trabalho
criativo de melhoria contínua. Enfatizando
que “a alegria pelo trabalho (motivação), a educação e o treinamento são
a base do crescimento do ser humano”, CAMPOS (1999) exemplifica com a evolução
do crescimento no caso de um operador: Etapa
1: somente opera. Etapa
2: inspeciona seu próprio trabalho, quando ajudado pelo supervisor. Etapa
3: Inspeciona seu próprio trabalho, mas é necessário que o supervisor
reavalie mais tarde. Etapa
4: Inspeciona seu próprio trabalho. Etapa
5: Inspeciona seu próprio trabalho e ensina outros operadores. Conforme LOBOS
(1993), as empresas podem desconsiderar seus empregados, mesmo sem ser
intencionalmente, de três formas: por ação, por omissão ou por reação. É
por ação quando decorre de atos dos dirigentes da organização. Por exemplo:
por medida de economia, uma empresa no interior de Santa Catarina, a maior da
cidade, simplesmente suspendeu a colocação de papel higiênico nos banheiros
da empresa. Os empregados precisaram trazer de casa o seu próprio papel.
Atitudes como esta deixam claro aos colaboradores que a empresa não lhes dedica
nenhuma consideração. Uma
empresa peca por omissão quando deixa de reconhecer publicamente os méritos
dos colaboradores ou quando trata com descaso a questão da qualidade de vida no
trabalho. E
é por reação quando, com receio de perder o controle, a Organização impõe
regimes autoritários de comportamento, com proibições de todo o tipo, sem
levar em conta a cultura dos colaboradores. A
montadora brasileira de automóveis FIAT foi apontada por EXAME (2000) como a
melhor empresa para se trabalhar no Brasil. O critério para a escolha é
simples: pergunta-se aos funcionários o quanto estão satisfeitos com a empresa
onde trabalham. A opinião deles representa 80% da nota final da empresa. Os 20%
restantes são resultado da análise das políticas e práticas de recursos
humanos. O que
distinguiu a FIAT das 281 empresas pesquisadas, foram as notas obtidas nos
quesitos como credibilidade dos chefes, respeito pelas pessoas, tratamento
justo, orgulho e camaradagem no ambiente de trabalho. O consultor americano
Robert Levering diz que “as pessoas gostam de ir trabalhar num lugar em que se
sintam respeitadas e tratadas com justiça”. Gianni Codda, superintendente da FIAT diz que uma empresa com pessoas felizes é um diferencial competitivo hoje em dia. A prova disso são os resultados da empresa: a FIAT detém 60% do mercado automobilístico e, em 1999, foi a única a apresentar lucro entre as quatro grandes montadoras (as outras são General Motors, Ford e Volkswagen). “Trabalho em equipe e transparências nas informações. Esse é o nosso segredo”, diz Codda (EXAME,2000).
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